A médica Irene Wiggers, diretora vice-presidente da Unimed, entregou uma carta de renúncia nesta quarta-feira com denúncias pesadas contra seus pares da atual diretoria, que está no terceiro ano de mandato, de um total de quatro anos. Entre elas, diz-se “sentir discriminada, obstruída e atingida pela misoginia no exercício das minhas funções como membro da diretoria executiva.”
Relata como outros problemas, a contratação de parentes de dirigentes, má gestão dos colaboradores e falta de transparência.
Conversei com a doutora Irene, que me confirmou as denúncias. Sobre a misoginia, disse-me que “eu sentia que não era me dada a mesma oportunidade que aos homens, a minha opinião não era respeitada”. Relatou situações que envolviam também encontros da Federação das Cooperativas da Unimed, onde ela não seria bem-vinda por ser mulher.
Sobre a contratação de parentes, refere-se a filha do presidente que trabalhou no local durante um tempo.
Entramos em contato com a assessoria de imprensa da Unimed, que confirmou que a diretoria tomou conhecimento da renúncia, mas iria se manifestar apenas nesta quinta-feira, pois dois diretores estavam fora.
A carta com sua renúncia foi enviada para um grupo de médicos, confira:
RENÚNCIA
Há 33 anos faço parte desta cooperativa Unimed, e há 12 anos participo ativamente da sua gestão, direta ou indiretamente. Foram 6 mandatos no Conselho Fiscal, um mandato na CACIJ, esse interrompido para assumir o cargo de Diretora Vice-Presidente, em março de 2018.
Agora, cheguei ao último ano do meu mandato, esse que foi marcado por mudanças externas significativas no mercado da saúde e fatos internos diversos que acentuaram para mim os sentimentos de impotência, decepção e frustração.
Isso porque afetaram o alcance dos propósitos que assumi com os cooperados que confiaram a mim a sua representação junto à cooperativa.
No meu ponto de vista, a entidade tem sido tratada como objeto de disputa política e de poder pessoal por seus principais dirigentes e gestores, antes e acima da instituição e de seus cooperados. Faltam os princípios da boa governança, permitindo, por exemplo, que o autoritarismo predomine e impeça que os pensamentos da gestão inovadora ocupem os espaços corretos para o desenvolvimento e atualização de nossa entidade.
Os princípios cooperativistas de equidade, gestão democrática, preocupação com a comunidade, neutralidade política, religiosa, de raça e gênero, incluindo aqui o tema tão atual da inclusão da diversidade, estão demasiadamente longe do que observo nas práticas da cooperativa.
Essa abordagem prevalecente hoje em nossa Unimed, me faz sentir discriminada, obstruída e atingida pela misoginia no exercício das minhas funções como membro da diretoria executiva.
Nestes mais de 3 anos, assisti e protestei contra várias situações inadequadas em relação aos princípios de compliance e às boas práticas de gestão. Cito como exemplos: a contratação de filha de dirigente/gestor para laborar na cooperativa; aprovação de projetos e/ou estruturas sem estudo de viabilidade, inacabados ou com resultados que não se justificam; má gestão de colaboradores, com contratações de simpatizantes da igreja vinculada a uma gerente da cooperativa, e perda de colaboradores capacitados por promessas não cumpridas; a imposição de simples desejos ou vontades por parte de nosso presidente e de nosso superintendente; falta de transparência na tomada de decisões, especialmente com os cooperados, ou favorecimentos; obstrução de informações. Todos os fatores típicos de quem administra a cooperativa como se fosse sua, e assim impedindo que o diálogo, a racionalidade e o bom senso sejam os balizadores da conduta de todos.
Deixar de combater essas situações e atitudes inadequadas não está de acordo com a minha consciência, e isto custou-me escolher entre a solidão ou o silêncio.
Não poderia ficar em silêncio.
Não vou me curvar, nem concordar com o autoritarismo, a misoginia, a tomada de decisões em desacordo com os princípios que deveriam reger a boa gestão da nossa cooperativa.
Persistir nesse ambiente tóxico está insustentável, pois seria minha servidão voluntária a objetivos para os quais não fui eleita. É inadmissível trair meus ideais, bem como os desejos de muitos cooperados que confiaram a mim a sua representação.
Assim, por não conseguir me fazer ouvida, e a fim de levar os cooperados a refletirem sobre a administração, o funcionamento e os objetivos da nossa cooperativa, comunico ao Conselho de Administração minha renúncia em caráter irrevogável e irretratável ao cargo de Diretora Vice-Presidente da Unimed
Blumenau.
Ressalto, ainda, que renuncio à Vice-Presidência da Cooperativa não por
covardia ou medo, mas sim para protestar contra tudo o que tenho combatido ao
longo dos anos que exerci funções nesta cooperativa.
Por fim, desejo que no futuro breve, a nossa Unimed seja verdadeiramente dos
cooperados e para os cooperados.
Blumenau, 14/07/2021.
Irene Wiggers
Apenas uma pergunta: essa senhora sabendo de tantos crimes , fez a denúncia no Conselho de ética da cooperativa ou alguma denúncia no ministério público?
Infelizmente o conselho de ética de algumas unidades dessa cooperativa só serve de enfeite. Caso de contração de parentes é comum na cooperativa.
O ministério público também serve de enfeite na sua opinião?